Os vendilhões do Templo
No livro Os Vendilhões do Templo, Moacyr Scliar faz uma
viagem ao passado para abordar um mesmo tema em 3 épocas diferentes. Os
vendilhões é o principal assunto trato nas 3 novelas que compõem a obra.
SCLIAR,
Moacyr. Os vendilhões do Templo. 1 ed. Cia. Das Letras: São Paulo,
2006.]
A 1ª novela é a mais longa e se desenvolve com uma alusão a passagem
bíblica do Evangelho Segundo Mateus, onde se encontra o episódio em que Jesus
expulsa todos que vendiam e compravam no templo, e derriba as mesas dos
cambistas e dos que comercializava pombos. A história acontece em Jerusalém no
ano 33 d.C., isto é, ano em que Jesus encerrava seu ministério na Terra. Devido
a este fato, o autor faz outras alusões a passagens bíblicas, porém segundo a
visão óptica do vendilhão expulso do templo por Jesus que na história de Moacyr Scliar ganha o nome: “Pregador”.
A 2ª novela é a mais curta. Ela começa com a ida do padre Nicolau a
uma pequena missão jesuítica do sul do Brasil. Mesmo curta a história torna-se
atrativa graças às dificuldades que o padre Nicolau passa a ter após a
inesperada morte do padre Manoel. A partir desse acontecimento a história
começa a se desenvolver, já que sem saber falar o Guarani (língua dos índios) o
padre Nicolau passa a ter grandes dificuldades para se
comunicar com os índios. É nesse momento que surge o misterioso Felipe,
que sabendo falar o guarani, oferece ajuda ao padre. Porém, as
traduções propostas por Felipe daquilo que os índios falavam
não pareciam ser verdadeiras, gerando uma série de problemas ao padre.
Por fim, a 3ª novela acontece em uma época mais contemporânea, em 1997.
A história se passa na cidade de São Nicolau do Oeste, no sul do Brasil. A
história começa a se desenvolver quando um assessor de imprensa junto
com seus ex-colegas de colégio relembra a peça de teatro que encenaram juntos
na infância. Armando que era professor de história havia-se
tornado camelô, Félix mostrava-se desonesto e sem escrúpulos
e Matias, o mais tímido do grupo, morreu pouco tempo após a
encenação.
Comparando a 1ª novela com o contexto bíblico, é possível apontar uma
contradição no episódio (pg. 122) em que o vendilhão observa
o Pregador na cruz: “Ali estava ele, as mãos rasgadas pelos
enormes pregos que o fixaram ao madeireiro, a coroa de espinhos na cabeça, o
lado trespassado por uma lança para que morresse mais de pressa.”. Em
seguida o vendilhão vê (e ouve) o Pregador pronunciar
algumas de suas últimas palavras na cruz: “Pai perdoa-lhes, porque não sabem
o que fazem.”. No entanto, segundo o contexto bíblico, Jesus (o Pregador)
profere essas palavras (LC. 23:34) antes de ter um de seus
lados perfurado por uma lança. Quando os soldados foram quebrar-lhe as pernas
para que morresse mais de pressa, perceberam que ele já estava morto, só então
um dos soldados lhe furou o lado com uma lança (JO. 19:33-34).
Apesar de ser uma história fictícia, as alusões bíblicas feitas pelo
autor na primeira parte do livro são claras. Sendo assim está pequena falha poderia
ser evitada observando-se melhor o contexto bíblico que também pode ser
considerado contexto histórico. Toda via, mesmo cometendo esta pequena falha, o
autor mantém-se fiel ao principal objetivo da 1ª parte do livro, que é mostrar
o episódio bíblico sob a óptica do vendilhão.
Embora as 3 novelas não seguem uma ordem cronologia, elas se mantém
ligadas por alguns fatores: Afigura do vendilhão aparece
nas 3 novelas. Na 1ª é representado claramente pelo personagem vendilhão,
que recebe este nome justamente por ser um vendilhão no templo. Na 2ª a figura
do vendilhão do templo está representada pelo índio que de
certa forma comercializava imagens artesanais na entrada da capela. Já na 3ª, a
peça que levava o nome “os vendilhões do templo” mostrava a figura do vendilhão
representada (e encenada) pelo personagem Matias.
Outra figura presente é a do pombo, não só o pombo, mas também o seu
olho que ganhava destaque nas 3 novelas. O vendilhão vendia
pombos para o sacrifício dos fiéis. O índio na 2ª novela
comercializava pombos artesanais na entrada da capela. Já Matias na
3ª novela, morria de medo de pombos e quando internado em uma clinica, antes de
morrer deixou desenhos de pombos inacabados, mas sempre com o olho negro e
profundo em destaque.
Outro fator comum nas 3 novelas é a presença de alguns personagens
misteriosos como os
místicos que viviam no alto da montanha e o sapateiro que
após um encontro com o Pregador, diz que lhe foi dado a missão de nunca parar
de andar, isso na 1ª novela. Na 2ª novela aparece a figura do misterioso
Felipe cujo comportamento gera uma série de incertezas ao padre Nicolau,
ou ainda o índio Miguel que enquanto esculpia uma enorme
imagem de Cristo resolveu perfurar seus próprios pés para ter uma noção exata
de como havia ficado os pés de Cristo, além disso, esse índio andou sumido
durante um tempo. Por fim, na 3ª novela, encontramos o misterioso Matias,
que sofria uma serie de conflitos psicológicos (esquizofrenia).
Já os projetos do vendilhão (mirabolantes para a época)
parecem ligar-se em estranheza ao esquisito projeto do padre Manoel,
que planejava construir uma enorme estátua de Cristo, oca por dentro para que
pudesse viver ali dentro seus últimos dias de vida, e em seguida ser sepultado
ali mesmo. Aliás, nesse projeto tinha um detalhe que parece se ligar a um dos
episódios da 1ª novela: No projeto da estátua de Cristo, o padre Manoel se
alimentaria através de um buraco em um dos lados da estátua, esse buraco é uma
representação da perfuração que Jesus sofreu e que foi descrita pelo vendilhão na
1ª novela (pg.122).
Outra ligação, agora entre a 2ª e a 3ª novela é a cidade de São
Nicolau do Oeste, que não
ganhou esse nome por acaso. A cidade ganhou esse nome em homenagem ao
padre Nicolau que após a morte do padre Manoel (história
narrada na 2ª novela), foi o responsável por catequizar os índios e dar
continuidade ao povoamento daquela região, que mais para frente se
transformaria (história narrada na 3ª novela) na cidade São Nicolau do Oeste.
Por fim, há uma série de fatores que mantém as 3 novelas ligadas uma às
outras, no entanto, para encerrar é importante ressaltar a mensagem que o livro
todo traz. A mensagem de que - não importa se vendendo pombos para o sacrifício
ou se trocando pombos artesanais por comida; se encenado em uma peça de teatro
ou vendo relógios em uma praça – os vendilhões estiveram, estão e sempre
estarão presentes entre nós. Todos nós vendemos algo em nossa vida, seja por
necessidade ou interesse; por isso o
vendilhão do templo é eu, o vendilhão do templo é você!
André Buscaratti Silva
Postagem nº 9 - São Paulo, FATEC-SP - 27 de maio de 2009-TER
(Obs.: Escrito na FATEC-SP)
(Obs.: Escrito na FATEC-SP)
4 comentários:
olá andré
sou eu a mical
parabéns pelo blog
tá show
Oi Mical,
Valeu!
Seu Blog tbm é show, muito bom!
Parabéns pra você tbm!
Deus te abençoe, Bjs!
Velho voce me salvo da reprovação valeu
Por nada... Boa sorte,Deus te abençoe!
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